quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Atricidade

"Os grandes artistas não são os copistas do mundo, são os seus rivais.
André Malraux 


Essa roda viva gira dentro de mim e eu não posso pará-la, como você deseja, como gostaria.
Tirar-me de mim mais uma vez é necessário. E partir. Partir é vital. É visceral, é urgência e não superfície... ilusão.
 Ilusão talvez todos sejamos e eu preciso sair dessa carne, essa carne não presta. Comunicador com o mundo exterior a fim de dissolver alguma angústia.
E que me difere de ti? O que nos difere? Talvez nada além de um bater de um sino que ecôa em minha mente, nada além de alguns fios orgânicos presos em meus pulsos e calcanhares. Talvez nada, a não ser essa névoa roxa, brilhante e etérea, que exalo das minhas narinas quando respiro.
 “Vai pra onde, vai com quem, volta a que horas?”
 “Vou pra longe, vou com muitos, talvez não volte”
Na surdina da noite, o debilitante véu da moral apática se desfaz, eu gozo, no riso, eu choro... Talvez por você?
Os meus lábios coloridos eu vejo atráves de uma fina película metálica refletindo meu rosto. Está na hora. Dois homens sentados, estão de chapéu, mais alguns ao fundo, bem vestidos. Poucas mulheres, conto três. A audiência é esparsa e vaga, composta em sua maioria de homens, alguns com semblante de agonia, ou ciúme. A textura dos tecidos das cortinas tocam meu rosto. É particular a sensação que causam. O cheiro é de piso de madeira e cigarros sem filtro. O silêncio é material. O silêncio então existe.
Não confundam meus amores e meus dias e meus sexos. Me batam na cara, me amem, me amarrem em uma corda e me lançem a dez metros de altura e eu voltarei. Voltarei para dormir em seus sonhos.


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