Queria
estender-lhe a mão e afastar os fios de cabelo que lhes tocam a face, pô-los
por detrás de sua orelha para olhar em seus olhos negros, fundos, e entender o
que escondes por trás de tantas minúcias. De tantas mãos nervosas e trêmulas,
com unhas levemente roídas, fazendo dançar entre os dedos uma chave - seria de
sua casa? - queria entender o que se passa por detrás desse profundo rio plácido.
As suas águas tenho certeza que transbordam calmas para lhe refletir na face
essa mansidão de menina-mulher serena, mas por trás de suas nuanças esconderias
tu águas caudalosas e cálidas, turbulentas e de impetuosa paixão que te
fraquejariam as pernas e me trepidaria o juízo. E seu juízo, queria compreender
por trás dessa tua saia rodada de moça e me emaranhar nela como se me deitasse
no campo das flores da qual é composta, para sentir-lhe o cheiro e garantir que
minhas mãos entendam sua textura e a gravem em uma memória particular e
inacessível. Entenderia melhor seus mecanismos e seus meandros se te possuísse
de uma maneira maléfica, a fim de te fazer mal, todo mal que me causas, mas
extenuante mal, para que finalmente sua língua deslizando entre os dentes me
contasse uma verdade que já desconfiava? E sentiria seu hálito próximo ao meu a
me embriagar, em um lânguido pecado com gosto de sal e terra vermelha, e tuas
unhas em minhas costas, em meu corpo que almejara em teus mais limpos lençóis,
com tua boca mais vermelha a me beijar como se não houvesse amanhã, em tuas
pernas montadas como um lindo esquadro - será então que entenderia o que se passa
por trás desse espesso véu de secreta cumplicidade quando me olhas? Às suas
minúcias jaz, quase invisível, uma aura que a faz emitir calor, porém
imperceptível aos tolos.
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