quarta-feira, maio 01, 2013

Desinteresse no estado onírico presente nas almas alheias.


Enquanto passava debaixo de uma escada sempre pensava em superstições bobas. As bobagens do mundo atraem demais. É nossa fuga do óbvio. Da obviedade que está logo ali na esquina e não queremos encará-la. A obviedade de que somos poeira, pó, flagelo e desilusão.
Encontrou um gato preto, lindo animal com suas patinhas fofas, aquelas almofadinhas que ficam embaixo de cada “dedo”. Fuça triangular gelada e a língua áspera a se lamber todo. Já logo pensou em mal agouro. O gato branco não traria a mesma impressão.
Andava na rua e a chuva leve caia-lhe sobre os ombros e tilintava em sua fronte. Cada gota que caia sofria o impacto do corpo duro e espalhava-se em mil outras partículas-gotas.  Não, não há beleza nisso, é só a água caindo meu bem. A água que vem de nuvens que parecem confortáveis pra se dormir o sono de uma mente cansada.
Toquei sua mão hoje,  estava morna, nem quente nem fria, não suava, fui lhe dar um afago e escorregar meus dedos em sua palma, mas você veio com um aperto de mão firme e pulso duro, como aqueles que se dão em acordos comerciais.
Por que sentes tanto medo, menina, por que não apenas sermos bons e felizes um pro outro. Por que perder tempo, já estou partindo e talvez sabe-se lá quando volto. E se nem sequer voltar? É a estupidez humana de achar que existe amanhã. O mistério velado do amanhã que causa dores na barriga com uma revoada de passáros farfalhantes.
Sinto-te forte, decidida e derrogada. Enfim, sobre uma máquina fabulosa em formato de animal selvagem, oca por dentro e movida a carvão e vapor estão nossos sonhos. Os sonhos são mutantes e dinâmicos. Eu não a quero. Talvez nunca quis. Te quis muito e talvez mais do que tudo, te quis por perto para aplacar minha loucura e meus devaneios. Te quis leve e te quis mais que uma amiga, para me deleitar em sua boca, para me-te fazer bem.
Subjulgado a formato pré-definido, em casa e aprisionado. Não se aprisiona o ar em um vaso hermético, pois as paredes nunca são seladas o suficiente, e invariavelmente irá difundir pelo desejo de fazer parte do todo, da atmosfera. E ser respirado, ser útil, ser integral.
Quando aquecido por uma chama o ar torna-se menos denso e voa alto, e já nas alturas resfria. Resfriando desce e aquece-se novamente para voar mais uma vez. Denovo e  de novo e novamente, num ciclo infinito.
O calor bom e a leveza. É só isso. Depois se vai, voando solta.
Uma máscara diabólica me sorri como que dizendo “Estás só!”. Eu não me importo, pois enquanto tivermos força, enquanto a terra girar em torno do sol empurrada pelos desejo dos deuses, pela força motriz da manivela inescrupulosa de Atlas, e meu estado ébrio, e minha cabeça esfumaçada pelo vigésimo cigarro seguido, e meus dedos puderem se mover para expurgar meus demônios com a violência das minhas palavras, estarei  em paz.

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